
Tamanco branco, de salto alto. As pernas finas deslizavam dentro da pantalona azul-piscina, em passos decididos. Desfilava como quem percorre um corredor de pedras preciosas, cintilantes, nas cores que a natureza ousou criar. Era a mesma visão que tivera certa vez, ao sonhar com sua chegada ao Céu. Uma imagem antiga, que a visitava para lembrá-la que nunca estaria lá por merecimento, mas por graça.
Esperança. Na raiz desta palavra, nascida do latim, vive a imagem de uma semente lançada ao vento. Apesar de bela e poética, muitas vezes, a virtude resiste exausta, meio viva, meio morta. Contudo, aquela moça estava tomada por ela. Cabelos, pele, olhos, coração, até a barriga, ainda chapada, pulsava esperança.
O médico abre o envelope com cerimônia e declara: “Você está bem grávida! Cuide-se!” Uma festa íntima se acende, e lá no fundo surge uma canção conhecida: “Vamos pular”. Esse espírito de alegria que agora ela carrega, passaria a acompanhá-la até o grande dia.
A jovem mulher já sabia o que era dar à luz em meio às dores do parto e esquecer a aflição ao ouvir o primeiro choro. Mas o seu deleite em gerar ia além. Se pudesse, teria muitas filhas, uma em cada estação.
O que seria essa espera tão ardente? Saudade de carregar um coração batendo dentro do seu? Ou a solidão daqueles que vieram por pouco tempo e ainda a chamam de longe? Talvez fosse a ânsia insaciável de ser casa, ninho, templo, colo… Porta aberta ao amor eterno.
Era assim que torcia para ouvir uma voz grave anunciar: “Há um saco gestacional de quatro semanas e, dentro dele, um embrião esbanjando batimentos cardíacos.” Seria o ser mais amado do mundo.
E ela, a escolhida para acolher o milagre, poder absoluto concedido à filha de Eva, ser parceira do Criador.
Enquanto o doutor, com seu aparelho, vasculhava camadas rubras onde o amor se fazia carne, a silenciosa protagonista aguardava a notícia sagrada, exaltada: “É uma menina!”
Maria do Rocio Vaz











